Flipinha 2021 celebra povos originários e comunidades tradicionais em encontros online com 21 autores e educadores indígenas

Por Juliana Gola - 17 nov 2021 - 24 min

De 22 a 27 de novembro, a Ciranda dos Autores será transmitida ao vivo pelos canais da Flip no Youtube, Facebook e site. Entre os convidados estão Daniel Munduruku, Rosinha e Waldete Tristão, finalistas do Prêmio Jabuti, e autores que dialogam com o tema deste ano: identidades, saberes e cosmogonias dos povos originários e comunidades tradicionais

Seguindo as palavras de Paulo Freire: “aprender a ler palavras para aprender a ler o mundo”, a missão da Flipinha é transformar Paraty em uma cidade de leitores, impactando pessoas e comunidades a partir da literatura. Na edição deste ano, a proposta é dividir a programação entre ações voltadas diretamente à primeira infância e ações voltadas para professores, mediadores e pais, atingindotambém as crianças de até 6 anos por extensão. 

Pelo segundo ano consecutivo, o Educativo Flip aposta num formato colaborativo, em que os educadores de Paraty participam ativamente na escolha dos convidados. O processo desta edição começou em outubro com o Percurso Formativo Sementes, com coordenação pedagógica de Denise Col, do Coletivo Sabenças, que mobilizou a rede de ensino de Paraty em torno das obras sugeridas pelas editoras, e seguiu até novembro, em encontros presenciais e online para leitura e discussão sobre os autores, definindo assim a programação da Ciranda dos Autores. O Percurso prevê ainda o desenvolvimento de um material digital para orientar as atividades pedagógicas dos educadores com seus alunos nos meses seguintes. 

A 19ª Flipinha, a Flip das crianças, suas famílias e educadores, será totalmente gratuita e terá transmissão ao vivo e online pelos canais da Flip, com 12 mesas e a participação de 21 autores e educadores indígenas, de 22 a 27 de novembro, em dois horários, pela manhã e à tarde. São eles: Ani Ganzala, Beatriz Chachamovits,  Ciça Fittipaldi, Daniel Munduruku, Edimilson de Almeida Pereira, Elaine Marcelina, Erika Balbino, Heloísa Pires de Lima, Índigo, Janaína Tokitaka, Juka, Josias Marinho, Kaká Werá Jecupé, Luciana Grether, Marie Ange Bordas, Marina Miranda, Sheila Perina, Simone Motta, Rosinha, Waldete Tristão, Yaguarê Yamã. Outras duas mesas realizadas em outubro e novembro, para educadores durante o Percurso Formativo Sementes, contaram com a participação dos autores Valmir Kuaray e Cristine Takuá, e Susana Maria Fernandes. 

Nesta edição, além dos autores convidados, a Ciranda dos Autores reunirá na mesa “Um livro de arte Iny Karajá nas escolas indígenas” os educadores Waxiaki Karajá e Wahuká Karajá, e Rosani Leitão, que atua na Educação Intercultural de Formação Superior Índigena, para uma conversa com a autora Ciça Fittipaldi, sobre o livro apoiado pelo Iphan e que tem a participação de todos eles.

A Flipinha, que conta com ações preparatórias durante o ano todo, foi selecionada pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Cultural para Crianças – Feiras e Ações Literárias, ao lado de outros 32 beneficiados. A iniciativa busca identificar e apoiar projetos que promovem o encontro entre o leitor e o escritor, a criança e a leitura, com foco este ano em levar o tema da primeira infância a eventos literários. 

Flipinha o ano todo

Outras formações em mediação de leitura estão sendo realizadas, desde outubro, em formato presencial e online, para educadores e futuros educadores de Paraty. Assim como as ações da FlipZona na Flipinha, direcionadas aos jovens; os Pés de Livros, presenciais, que disponibilizarão inúmeras obras literárias em espaços comunitários de Paraty; e o Publique-se, em formato híbrido, realizando oficinas voltadas à formação em técnicas de encadernação e experimentação gráfica para as crianças. 

Apenas uma destas oficinas será realizada de maneira presencial concomitante à ação dos Pés de Livros realizados na Praça da Matriz durante a semana oficial da Flipinha. As outras duas oficinas serão oferecidas em vídeo oficinas, com material a ser distribuído para escolas e creches da Rede Municipal de Educação. 

O projeto conta com o benefício da Lei Federal de Incentivo à Cultura e Vale+Cultura. Tem patrocínio oficial do Itaú e Instituto Cultural Vale, parceria da Secretaria de Cultura de Paraty, e é uma concepção da Associação Casa Azul. A Flipinha tem como patrocinadora oficial a Petrobras e é uma realização da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Pátria Amada Brasil, Governo Federal.

Flipinha 2021 – Ciranda dos Autores 

De 22 a 27 de novembro

MESA 1
Nome da mesa: Leituras e brincadeiras para todas as infâncias 
Autores: Sheila Perina e Simone Mota 
Data: 22 de novembro 
Horário: 9h30 

MESA 2
Nome da mesa: Aos mais velhos e aos mais novos… reverências! 
Autores: Elaine Marcelina e Juka
Data: 22 de novembro
Horário: 14h30

MESA 3
Nome da mesa: Encontros e experiências no mundo mágico da leitura
Autoras: Janaína Tokitaka e Índigo 
Data: 23 de novembro
Horário: 9h

MESA 4
Nome da mesa: Poemas para ler com palmas 

Autor: Edimilson de Almeida Pereira 

Data: 23 de novembro
Horário: 14h30 

MESA 5
Nome da mesa: Do encantamento à tradição
Autores: Josias Marinho e Luciana Grether

Data: 24 de novembro
Horário: 9h30 

MESA 6
Nome da mesa: “Dialogando sobre livros em múltiplos formatos acessíveis”
Participantes: Yaguarê YamãDianne MeloDenise Col e Carla Mauch                       Data: 24 de novembro
Horário: 18h 

MESA 7
Nome da mesa: A jornada no mundo e a experiência no livro

Autoras: Beatriz Chachamovitz e Marie Ange Bordas 

Data: 25 de novembro
Horário: 9h30 

MESA 8
Nome da mesa: Quando as histórias se fazem espelhos

Autoras: Ani Ganzala e Heloísa Pires de Lima

Data: 25 de novembro
Horário: 14h30 

MESA 9
Nome da mesa: Um livro de arte Iny Karajá nas escolas indígenas

Participantes: Waxiaki Karajá, Wahuká Karajá, Rosani Leitão e Ciça Fittipaldi

Data: 26 de novembro
Horário: 9h30  


MESA 10
Nome da mesa: Histórias, memórias e maneiras de contar

Nome das autoras: Erika Balbino e Rosinha 

Data: 26 de novembro
Horário: 14h30 

MESA 11
Nome da mesa: Curumins e erês nas redondezas do mundo

Nome dos autores: Daniel Munduruku e Waldete Tristão 

Data: 27 de novembro
Horário: 9h30 

MESA 12
Nome da mesa: Pé na terra e cabeça nas letras

Nome dos autores: Marina Miranda e Kaká Werá Jecupé 

Data: 27 de novembro
Horário: 14h30 

Sobre a Flipinha

A Flipinha é um dos eixos da Flip, uma das principais manifestações culturais brasileiras, que chega à sua 19ª edição. Trata-se de uma realização da Associação Casa Azul, OSCIP cuja missão é iluminar raízes culturais e fortalecer sua permanência no território por meio de projetos nas áreas de arquitetura, urbanismo, educação e cultura. A Flip conta com um grande reconhecimento: além de inspirar outras festas literárias espalhadas pelo Brasil, conta com premiações importantes como Prêmio APCA (2011) e o Prêmio Bravo! de Melhor Evento Cultural (2018), e também com uma notória valoração de mídia espontânea (R$ 452 milhões em 2019). 

A Flipinha foi criada para promover a literatura e incentivar a leitura entre alunos e professores da rede escolar de Paraty. Sua programação de mesas literárias (Ciranda dos Autores) teve a participação de mais de 110 autores e ilustradores de literatura infantil desde 2012. A Flipinha desenvolve também atividades que vão além do período de realização da Flip, como seminários, ciclos de literatura e oficinas de temática variada (ilustração, escrita criativa etc) – desde 2012, foram realizadas mais de 110 oficinas. Entre 2012 e 2019, 189 escolas participaram das ações da Flipinha. A formação anual de mediadores de leitura é outra tradição do projeto, que já formou mais de 500 mediadores.

Programa de doação de livros: Por meio da parceria com as editoras participantes da Flip, a Biblioteca Comunitária Casa Azul já entregou mais de 40 mil livros para a população de Paraty. Até 2019 mais de 80 instituições receberam as doações. Durante a pandemia de Covid-19, foi viabilizada a doação de 11.626 livros(*) para famílias e crianças paratienses. Para a distribuição desses livros, contamos com a parceria da Secretaria Municipal de Educação de Paraty e das bibliotecas que integram a Rede Mar de Leitores de Bibliotecas Comunitárias. (*11.148 livros chegaram via Fundação Itaú Social que doou kits de livros do programa Leia para uma criança e 478 livros vieram de editoras parceiras do Educativo Flip).

Minibios dos Convidados – Flipinha 2021

Autores:

A artista educadora Ani Ganzala nasceu em Salvador (BA) e ilustrou a obra infantil “Beata, a menina das águas” escrita por Elaine Marcelina, lançada neste ano. A falta de referência negra na literatura, fez com que Ganzala buscasse seu processo criativo na auto investigação das memórias dos mais velhos e antepassados, e da memória coletiva. A ilustradora define que a arte na sua vida vem sendo uma medicina e pedagogia sobre afeto, ancestralidade, cultura, respeito à diversidade e a natureza.

Autora de “O Pequeno Manual de Peixes Marinhos e Outras Maravilhas Aquáticas”, Beatriz Chachamovits é artista ambiental e educadora focada na conscientização e preservação do ecossistema marinho. Bacharel em Educação Artística, a autora publicou seu primeiro livro em 2018, momento em que traz para o mundo infantil um olhar científico, curioso e artístico o quão fantástico é o fundo do mar. Segundo a autora, a obra foi pensada para integrar currículos das escolas, no qual o livro pudesse ser fonte de pesquisa e de aprendizagem em relação ao ecossistema marinho.

Pertencente ao povo indígena Munduruku, o escritor Daniel Munduruku é autor de 54 livros publicados por diversas editoras no Brasil e no exterior, a maioria classificados como literatura infanto-juvenil e paradidáticos. Premiado nacionalmente e internacionalmente  por suas obras literárias, o escritor promove há 17 anos, o Encontro de Escritores e Artistas Indígenas no Rio de Janeiro em parceria com a FNLIJ. Nascido em Belém, Daniel Munduruku é  graduado em Filosofia, História e Psicologia. Tem mestrado e doutorado em Educação pela USP – Universidade de São Paulo e pós- doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. 

Edimilson de Almeida Pereira é poeta, ensaísta e professor na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).  “Histórias Trazidas por um Cavalo Marinho” é uma das obras do escritor mineiro, que se equilibra entre a força do passado e o chamado do futuro. Pereira acredita que a memória é a grande ponte onde se encontram os ancestrais e os descendentes, a floresta e a cidade, as crianças e os adultos, no qual ele tem procurado apreender as múltiplas faces desse mosaico cultural e, por outro lado, imaginar formas, ritmos e linguagens derivados deles.

Elaine Marcelina nasceu no Rio de Janeiro, é graduada em História, Mestre em História, Professora, Dramaturga Roteirista e faz parte do Corpo Editorial da Revista África e Africanidades e coordena o GT de Literatura Afro-brasileira da mesma Revista. Militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Marcelina tem 10 livros publicados, entre ele, “Beata: A Menina das Águas”, em que dialoga com a diversidade, com protagonismo a crianças negras e uma história de paixão pela natureza, em especial pelas águas. A autora fala da necessidade em pautar o protagonismo negro, as relações étnico-raciais e trazer todo esse debate desde a primeira infância para as crianças buscarem e compreenderem suas origens, suas histórias e tradições da sociedade onde vivem.

Erika Balbino é formada em Cinema e Roteiro pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), tem especialização em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos da USP e é diretora da Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo. Ela é autora do livro “Num Tronco de Iroko Vi a Iúna Cantar”, que foi inspirado na sua vivência de 15 anos nos terreiros de Umbanda e na capoeira, com foco nas festas de Cosme e Damião, que são realizadas em setembro. A obra une a narrativa de memória afetiva da relação das crianças com seus avós e seus mentores, além de sua relação natural com a fauna e a flora e de como a imaginação de uma criança reflete a potência da criatividade, que é a inteligência se divertindo.

A trajetória de Heloisa Pires Lima no circuito editorial começou em 1995. Escritora, editora e antropóloga, é Mestre e Doutora pela USP e pesquisa representações culturais e origem africana para a infância e juventude. Como consultora, vem atuando nas esferas pública e privada, e em ONGs nacionais e internacionais. Heloisa escreveu os livros “História da Preta” e “Toques do Griô” e traz nas suas pautas a importância de equalizar a origem continental africana frente às demais nas prateleiras de livros, um desafio como escritora infantil.

Autora de mais de vinte obras para o público infantil e juvenil, Janaina Tokitaka é  roteirista e foi head writer da animação “Clube da Anittinha” (Gloob). A autora de “Oli procura uma (nova) Melhor Amiga” escreveu e desenvolveu “As Aventuras de Tito e Muda” (Discovery Kids), “Oswaldo” (CN) e “Tuiga” (ZooMoo). Como criadora, desenvolveu duas séries juvenis para a Netflix e Disney Plus. Seu livro “Pedro Vira Porco Espinho” foi selecionado pelo programa “Leia para uma criança” da Fundação Itaú Social, somando dois milhões de cópias adquiridas e distribuídas em território nacional. Seu livro “Ovo de Pégaso” foi finalista do prêmio Jabuti 2020 na categoria Infantil. Janaina Tokitaka acredita que seu trabalho deve levar em consideração a realidade e, se possível, operar sobre ela. 

Artista, ilustrador, educador e capoeirista, o escritor Juka nasceu em São Paulo e atualmente mora no Canadá. Suas produções artísticas buscam ecoar o universo do sertão brasileiro e de culturas tradicionais brasileiras. Suas narrativas e personagens são inspirados por raízes brasileiras, com um trabalho que reflete elementos centrais da vida humana como memória e esquecimento, verdade e mentira, e outras dualidades. Juka acredita que histórias podem ser poderosos agentes do tempo, como resistência, preservação e revolução. 

Professor de Artes Visuais (CAp/UFRR), Josias Marinho é da comunidade quilombola Real Forte Príncipe da Beira, às margens do rio Guaporé. Três de suas publicações já foram contempladas com a Selection of Brazilian writers, illustrators and publishers da Bologna Children’s Book Fair em 2014, 2012 e 2010: “Zumbi dos Palmares em cordel” (Madu Costa. Mazza Edições, 2013), “O príncipe da beira” (Mazza Edições, 2011) e “Omo-oba: histórias de princesas” (Kiusam de Oliveira. Mazza Edições, 2009). Sobre o livro “Benedito”, ele conta que é uma homenagem a São Benedito, um dos santos pretos celebrados pelo congado. Por meio de metáforas sobre as relações interpessoais das irmandades do rosário, ele fala sobre herança e aprendizado com os mais velhos, a partir da ancestralidade e a manutenção do saber que vem da cultura negra.

Kaká Werá é escritor e editor especializado na difusão da cultura dos povos originários do Brasil, autor de 10 livros entre ensaios, história, filosofia, ficção e infanto-juvenil, sendo o primeiro publicado em 1994. Seus principais títulos são: “Tupã Tenondé” (Editora Peirópolis), “O Trovão e o Vento” (editora Polar) e “A Terra dos Mil Povos” (Editora Peirópolis). Atualmente, escreve no blog kakawera.com e é colunista da revista Vida Simples. Dedicado em estudar e levantar as memórias e saberes da tradição tupi, desde a primeira publicação, transmite cosmovisões, filosofias, arquétipos e narrativas que revelam as facetas invisíveis das raízes mais profundas do Brasil. 

A ilustradora e professora carioca Luciana Grether volta à Flipinha depois de participar em 2014 como ilustradora convidada. Ela começou neste ofício em 1998, e de lá para cá já foram mais de 40 livros infantojuvenis e livros didáticos, e uma investigação corrente sobre as diversas possibilidades de representação, a artista segue se envolvendo nas técnicas de pintura, desenho e recorte e colagem. Em 2017, publicou “Marinela” (Ed ZIT) como  autora dos textos e das imagens, ganhando o Selo Lagarta Categoria Conjunto de Ilustrações do Prêmio AEILIJ 2017, e o convite para exposições na Sérvia, Porto Alegre e Eslováquia e, recentemente para o Clube de Leitura ODS da ONU, em 2021. Já o livro “O Acordeão Vermelho”, escrito por Katia Gilaberte e ilustrado por Luciana (Ed. Pó de Estrelas, 2019), recebeu o Selo Distinção Cátedra UNESCO de Leitura em 2020. 

Índigo é escritora e roteirista de cinema e séries de animação. “Saga animal” é a primeira das 36 obras da autora, que usa a literatura para dar voz àqueles que não podem falar por si: pinguins, ácaros, plantas, bebês recém-nascidos, gnomos, beija-flores. Seu livro “Cobras em Compota” foi vencedor do Concurso “Literatura para Todos”, do MEC, e “A maldição da moleira” foi finalista do Jabuti. Foi no seu mais recente livro “Flores Falastronas”, Índigo se permitiu mergulhar fundo numa realidade paralela na qual pôde visitar o reino das plantas e dos pássaros, além de fazer questionamentos sobre o comportamento humano, a maneira como vivemos nesse planeta e como nos comunicamos. Na obra, a autora empresta sua voz literária a diversas plantas com o objetivo de despertar no jovem leitor um novo olhar para o mundo e as criaturas à sua volta.

A artista, escritora e mediadora cultural, Marie Ange Bordas, desenvolve desde 2008 o projeto “Tecendo Saberes”, de criação colaborativa de livros infantis em comunidades tradicionais brasileiras e africanas, entre eles o “Manual da Criança Caiçara”. Marie trabalha internacionalmente na criação de projetos de arte, literatura e educação ambiental no intuito de apresentá-los aos jovens leitores de forma lúdica e consistente. Entre 2000 e 2009, desenvolveu o projeto “Deslocamentos”, convivendo e criando exposições com pessoas em situação de refúgio em vários países. Nos últimos 20 anos, a artista se dedicou a produzir projetos de arte, literatura e mídia, enfatizando a mediação cultural e a valorização do conhecimento, saberes e fazeres locais. 

Marina Miranda define seus escritos literários como “a argila de liga que une a existência identitária à espiritualidade da mãe-terra”. Autora de livros infantis com narrativas voltadas para o universo indígena, traz em suas obras conhecimentos aportados da ancestralidade familiar, da convivência com os parentes e do trabalho com professores e crianças indígenas nas aldeias. Professora da Ufes e Líder do Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Experiência do Sensível na linha de Estudos e Pesquisas na Formação de Professores Indígenas (Prolind/UFES), Marina diz que as obras que escreve são auto histórias que ficaram silenciadas em um ventre de batinga que ficou por mais de 500 anos resguardado no fundo de um grande rio.  A obra “Guardiões e Guardiãs da terra e do céu: cartas originárias de crianças indígenas para o mundo” foi  fruto de um projeto realizado com crianças na pandemia, numa produção coletiva a partir de escritas de cartas-terra implicadas nas dimensões cosmológicas das culturas indígenas Pataxó e Tupiniquim.

Autora Infantil de mais de 120 livros e vencedora de vários prêmios, entre os quais Jabuti e White Ravens, Rosinha busca inspiração “na memória individual e na memória coletiva”. A autora infantil mora em Olinda e é graduada pela Universidade Federal de Pernambuco em Arquitetura. Rosinha também é  co-criadora da escola de formação de ilustradores Usina de Imagens. Recém anunciados os finalistas do Jabuti deste ano, Rosinha concorre como ilustradora do livro “A Origem dos Filhos do Estrondo do Trovão: uma história do Povo Tariana”, escrito por Daniel Munduruku, que também está confirmado para a Flipinha.

Sheila Perina é Pedagoga, formada pela Universidade de São Paulo com graduação sanduíche na Universidade Lueji A’konde (Angola) e intercâmbio na Universidade Pedagógica de Moçambique. Autora do livro infantil “As brincadeiras africanas de Weza”, idealizado pelo Coletivo Ludere Afroludico, tem se dedicado a investigar as questões da linguagem e ensino no Brasil, Angola e Moçambique. A obra apresenta alguns países africanos por meio das brincadeiras e a relação ancestral que a personagem principal, a menina Weza, estabelece com o continente africano. Toda essa aproximação fez com que a autora se engajasse em disseminar outros discursos sobre a África e a evidente africanidade no Brasil.

Escritora de livros de literatura infanto-juvenil, roteirista e curadora, Simone Mota é carioca e cresceu no bairro de Todos os Santos. Autora de “Que cabelo é esse, Bela?”, tem mais de 10 livros publicados e diversas participações em antologias. Seu trabalho na literatura é fruto de uma transição de carreira que fez em 2010, desde então, se dedica em um compromisso central de produzir narrativas negras que possibilitem aos leitores um encontro com personagens e histórias com os quais eles se identifiquem e encontrem subjetividade. Na visão da autora, escrever para as crianças exige um cuidado permanente de observação e estudo do contexto social em que estamos inseridos para que o livro seja capaz de contemplar as infâncias sem perder, por assim dizer, a “língua da fantasia”.

Finalista do prêmio Jabuti deste ano com o livro “Conhecendo os Orixás, de Exu a Oxalá”,  Waldete Tristão é Doutora em Educação pela USP, Pedagoga e Mestra pela PUCSP. Foi professora e coordenadora pedagógica em escolas públicas de educação infantil (creches e pré-escolas) e atualmente é professora universitária.  Autora também do livro “Do Òrun ao Àiyé – A criação do mundo”, Waldete traduz seu processo criativo, bem como a construção coletiva da obra, como uma verdadeira experiência de reconexão com a ancestralidade, movida pelo compromisso de reconhecimento e valorização de uma história contada pelos seus antepassados. 

Ganhadora do Prêmio Jabuti por três vezes, Ciça Fittipaldi é artista visual, ilustradora e autora de literatura infantil e juvenil. Pesquisadora de culturas indígenas, africanas e afro-brasileiras, é autora do projeto gráfico, coordenadora do design e diretora de arte do projeto “Iny Tkylysinamy Rybèna/Arte Iny Karajá: Patrimônio Cultural do Brasil”. Apoiado pelo IPHAN, o livro foi escrito por autores indígenas com colaboradores não indígenas e ilustrado por crianças Karajá, participantes de oficinas de pinturas. A obra foi distribuída nas escolas da Terra Indígena Karajá, entre 2019 e 2021, e é uma das consequências de um projeto maior: a salvaguarda do patrimônio material e imaterial da arte e cultura Iny Karajá, povo indígena que habita no Rio Araguaia, mais precisamente nos estados de Goiás, na Ilha do Bananal em Tocantins e Mato Grosso, e no sul do Pará. 

Yaguarê Yamã é escritor, ilustrador, professor e artista plástico indígena nascido no Amazonas. Filho do povo Maraguá, formou-se em geografia pela Universidade de Santo Amaro (UNISA). No povo Maraguá, as histórias são contadas para as crianças pelo malylis, os pajés, dentro da mirixawaruka, a casa de conselho. No livro “Os olhos do Jaguar”, selecionado pelo Programa Leia para uma Criança 2021, o autor conta uma destas histórias, utilizando palavras maraguá e apresentando um pouco de sua cultura, com ilustrações de Rosinha.

Educadores:

Wahuká Karajá é professor e pesquisador indígena, pertencente ao povo Iny Karajá, da aldeia Bdè-Burè, em Aruanã (GO). Mora em Senador Canedo (GO) e trabalha na SEDUC-GO, na Gerência de Educação do Campo, Quilombola e Indígena como técnico pedagógico assessorando professores indígenas das unidades escolares do Estado de Goiás. É graduado em Ciência da Linguagem do Curso Intercultural Indígena e pós-graduado em Gestão Pedagógica Intercultural, ambos da Universidade Federal de Goiás (UFG). É coordenador local do programa Saberes Indígenas na Escola/MEC, vinculado ao Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena da UFG.

Rosani Leitão é Doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília, com estágio no Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social (CIESAS/México) e Mestre em Educação e Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua no Museu Antropológico, no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos na Licenciatura em Educação Intercultural de Formação Superior Indígenas (UFG), nas áreas de educação intercultural, patrimônio cultural e direitos humanos.

Professora e pesquisadora indígena, Waxiaki Karajá é pertencente ao povo Karaja. Atualmente vive na aldeia Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal, estado do Tocantins. Conselheira Distrital de saúde indígena (Dsei-Araguaia), Waxiaki Karajá é  Graduada em Pedagogia pela Universidade Adventista de São Paulo – UNASP e Pós-Graduada em Gestão Escolar Indígena pela Universidade Federal de Goiás (UFG), é Professora na Escola Estadual Indígena Malua,  To e coordenadora Local do Programa Saberes Indígenas na Escola,  vinculado ao Núcleo Takinahaky de Formação Superior Indígena/UFG. 

Mesas extras – Percurso Formativo Sementes:

No dia 22 de outubro, a primeira mesa da Ciranda dos Autores, realizada pelo Educativo Flip, como parte da programação da 19ª edição da Flip, recebeu os educadores Valmir Kuaray Cristine Takuá. O encontro presencial aconteceu em Paraty como parte do Percurso Formativo Sementes, coordenado pela Denise Col. A ideia era expandir o debate iniciado em agosto com os educadores, que leram obras enviadas por editoras e autores independentes, e propor a troca de perspectivas cruzando a realidade do ensino tradicional com a experiência da escola indígena trazida pelos convidados. Em que medida conseguimos encontrar caminhos alternativos para o pensamento colonialista que rege a educação escolar na maior parte do país? 

No dia 18 de novembro, a autora convidada para o último encontro presencial do Percurso Formativo Sementes, em Paraty, foi coordenadora da Oficina de Leitura Contos e Crônicas na Biblioteca Municipal de Botafogo no Rio de Janeiro, Susana Maria Fernandes, que é Mestre em Literatura Brasileira, Pós-graduada em Literaturas Contemporâneas de Países de Expressão Portuguesa e Pós-graduada em Literatura Arte e Pensamento Contemporâneo. Autora dos livros: “Que vida eu quero ter?” e “Gente Vestida de Noite”, Suzana participou recentemente como palestrante do circuito “Ler para Va-ler”, em Itaipava (RJ).

Juliana Gola

Juliana Gola é jornalista e trabalha com cultura, fazendo e divulgando, há 15 anos. Esteve nos principais festivais de literatura pelo Brasil como assessora de imprensa e na gestão de comunicação de editoras. Desde 2013 passou a olhar com mais interesse para as publicações infantis, assim como tudo relacionado à educação, ao se tornar mãe. Tem hoje duas filhas, Valentina (7) e Isadora (4), suas fontes de energia e curiosidade sem fim.

Crédito da foto: Monica Schalka

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