O TRABALHO E A INFÂNCIA

Por Juliana Muscovick - 01 maio 2021 - 7 min

No dia 1º de maio comemora-se no Brasil e em boa parte do mundo o Dia do Trabalho. A data foi escolhida em homenagem aos trabalhadores norte-americanos que nesse dia, em 1886, tomaram as ruas de diversas cidades dos Estados Unidos para reivindicar melhores condições e redução da carga horária máxima de trabalho por dia.

A relação entre criança, trabalho e profissão é muito próxima desde a infância, faz parte de nossa cultura perguntar aos pequenos e aos jovens “O que você quer ser quando crescer?”. Mas será que nessa fase as crianças já sabem mesmo o que querem ser?

O significado do trabalho pode ser definido por meio de diversas dimensões, mas normalmente refere-se a uma atividade realizada para atingir um objetivo. No ambiente de trabalho, é todo o esforço realizado para manter o negócio funcionando. Já a profissão é uma vocação que requer conhecimento de alguma área específica, formação técnica ou superior. 

Não raro, pais e familiares brincam de supor as profissões das crianças quando as observam, por exemplo, jogando bola: “vai ser jogador(a) de futebol”; montando e desmontando bloquinhos: “vai ser engenheiro(a)”; cozinhando de brincadeira: “vai ser cozinheiro(a)”, e por aí vai. Segundo o pedagogo Silvio Bock em entrevista para a revista Crescer (s.d.), elas [as crianças] têm a curiosidade como essência, gostam de experimentar diferentes coisas e atividades, por isso é recomendável que nesses momentos não ocorra um direcionamento forçado dos pais para alguma profissão. 

A ideia de vocação pode ser resultante de uma imagem afetiva que a criança constrói de determinada ocupação por conta da valorização em casa, na mídia ou na escola. Elas não pensam na profissão de forma contemplativa, mas geralmente nas pessoas que desenvolvem determinado trabalho. Por exemplo, a mãe que é dentista, o pai que trabalha no banco, a professora que ela admira, o cantor que canta determinada música que ela gosta. 

Assim, os responsáveis podem incentivar que a criança desenvolva qualidades como responsabilidade, dedicação, destreza, compromisso, entre outras habilidades que serão importantes no futuro, independentemente da profissão que for seguir. É importante que ela vá descobrindo seus próprios talentos aos poucos, sem necessariamente pensar em transpô-los ao trabalho, durante as brincadeiras, na escola, no relacionamento com os familiares, amigos, entre outras ocasiões. 

Trabalho infantil

Um assunto que está relacionado ao trabalho no universo infantojuvenil, mas de forma negativa, é o trabalho infantil, infelizmente uma realidade que rouba a infância de milhões de crianças. Muitas vezes, por conta da vulnerabilidade social da família, elas são expostas a trabalhos em condições de risco, insalubridade e assédio moral e sexual. 

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente e a legislação brasileira, é vedada a contratação de menores de 14 anos de idade em qualquer estabelecimento. Já adolescentes entre 14 e 17 anos podem trabalhar, desde que tenham sua carteira assinada e atuem em uma categoria de menor aprendiz, na qual possam aprender um ofício e trabalhar meio período, a fim de evitar prejuízo aos estudos. Os jovens também devem estar matriculados e frequentando a escola e fica proibido o desenvolvimento de atividades de risco, atividades degradantes e trabalho noturno.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, 2,7 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos trabalham em todo o território nacional. Alguns números: 38% desse total trabalham em atividades agrícolas; 2 em 3 crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil são do sexo masculino; 94% do trabalho infantil doméstico é realizado por meninas; a cada hora uma criança ou adolescente é vítima de exploração sexual. 

O trabalho infantil priva o indivíduo de desenvolver de uma maneira saudável todas as capacidades e habilidades. Para denunciar qualquer situação similar ao que foi citado, disque 100 ou entre em contato com qualquer um dos canais oficiais de denúncia de violações de direitos de crianças e adolescentes. A seguir, indicamos algumas obras do nosso catálogo que tratam da temática de trabalho e infância:

Aprendendo a amar – E a curar

A escolha da profissão é o ponto-chave desta história. Alexandre Gusmões é convidado para dar a aula inaugural de um curso de Medicina. Em vez de se ater à disciplina, ele revela sua trajetória e seu processo de aperfeiçoamento, mostrando o profissional num plano mais humano.

O caso dos ovos, de Tatiana Belinky

As galinhas estão em greve: não botam mais ovo! Mas a Páscoa vem chegando, e a produção não pode parar… A coleção recebeu o 1° lugar no Prêmio Jabuti em 1978, na categoria “Melhor Produção Editorial (Coleção Lagarta Pintada)”.

A lágrima do robô, de Carlos Eduardo Novaes

Será que os robôs vão substituir os humanos? Plínio, o robô, foi criado para trabalhar numa fábrica de carros, causando a demissão de várias pessoas. Risos e reflexão se misturam nesta novela futurista.

Futuro feito à mão, de Leonardo Chianca, Januária Cristina Alves, Rosana Rios, Giselda Laporta Nicolelis, Ricardo Gouveia

Contos que retratam o cotidiano de cinco profissionais distintos, flagrando um breve momento da vida de cada um deles. Divertidos, embasados em pesquisas, os contos ressaltam os atrativos e as dificuldades das carreiras de Direito, Medicina, Arquitetura, Engenharia e Administração, levando ao estímulo ou à sensibilização de jovens para o momento da escolha da profissão. Elaborado pelos melhores autores de literatura juvenil da atualidade.

Tonico, de José Rezende Filho  

A rotina de Tonico muda depois da morte de seu pai. Ele começa a trabalhar como engraxate para ajudar em casa e passa a percorrer as ruas na companhia do amigo Carniça.

O bonequeiro de sucata, de Eliana Martins

Como outros da cooperativa, Zeca trabalha no lixão para ajudar a família. Quando Maquelsen descobre que o menino tem talento para as artes, constrói o Galpão das Artes Recicladas, onde Zeca e outros garotos da comunidade fazem objetos de sucata para vender aos turistas. Mas o misterioso Bosu assombra os sonhos de todos, roubando o pouco lucro que obtêm.

Trabalho infantil – O difícil sonho de ser criança, de Cristina Porto, Iolanda Huzak e Jô Azevedo

Numa história ficcional embasada em trabalho de pesquisa, ‘Trabalho infantil – o difícil sonho de ser criança’ mostra um dos graves problemas sociais brasileiros. A personagem principal, Madalena, é uma adolescente que fica impressionada ao entrar em contato com a realidade das crianças que trabalham e resolve sensibilizar outras pessoas. Madalena leva o tema para o colégio e consegue mobilizar vários colegas, professores e orientadores para o seu projeto de pesquisa. A partir daí, a ideia toma proporções inesperadas. A adolescente e seus colegas denunciam nos jornaizinhos que escrevem as diversas e cruéis formas de trabalho infantil que se espalham pelo país, comovendo muita gente, até mesmo fora dos limites da escola. O livro aponta, ao lado de denúncias, caminhos para se modificar essa realidade que priva milhões de crianças do direito à infância.

O preço da liberdade – Uma menina condenada ao trabalho escravo na China, de Sally Grindley

Aos 11 anos, a menina Si-yan é vendida para saldar dívidas da família depois da morte de seu pai. A infância – se é que teve – já acabou, e as dificuldades estão apenas começando.

[1] Cf. PAIVA, Thais. A profissão dos sonhos de criança se tornou realidade para 30% dos profissionais, diz estudo. Crescer, [s.d.]. 


Juliana Muscovick

Juliana Muscovick é editora do Departamento de Literatura Infantojuvenil da SOMOS Educação. Formada em Letras, História e com especialização em jornalismo, trabalha na área editorial desde 2010 e sempre se aventurou pelos caminhos das letras, da cultura, da educação e das artes.

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