Por Índigo - 25 set 2018 - 3 min
O livro é um convite a um encontro secreto que se dá no lugar mais sagrado que há, a nossa intimidade
Toda vez que alguém me convida para escrever sobre livros, literatura e o gosto por leitura, minha primeira reação vem na forma de um longo e eloquente suspiro. É o suspiro da eterna apaixonada. Correndo o risco de parecer romântica, esotérica e excêntrica, confesso minha crença em livros como objetos mágicos. Pronto, falei. E uma vez dito isso, agora me sinto na obrigação de me explicar.
Para mim, o livro é antes de mais nada um portal para outra realidade. É uma máquina do tempo que nos transporta para um mundo paralelo, inicialmente construído pela imaginação do seu autor ou autora, e concretizado pela imaginação do leitor. O livro é um convite a um encontro secreto que se dá no lugar mais sagrado que há, a nossa intimidade. O livro é um emaranhado de letras que só ganham sentido quando decodificadas pelo leitor. Ele é a mais alta tecnologia. Mais sofisticado que 3-D, que realidade virtual, que qualquer invenção megablaster. Na sua simplicidade ele provoca um estopim neurológico que abre uma tela de imagens, sons, cheiros e emoções.
Concentrada nas páginas de uma boa história, eu me esqueço do mundo à minha volta e da minha própria pessoa. Para mim, uma boa leitura são miniférias sem precisar sair do sofá. Vejo os livros como pacotes de aventura que posso vivenciar durante algumas horas, dias ou semanas. Eles são silenciosos e relaxam nossa pessoa. São aconchegantes para a mente e sensíveis às necessidades do espírito. Um bom livro é um amigo que traz um conforto no momento certo. Eles nos envolvem e nos dão a possibilidade de nos colocar na pele de outra pessoa. Eles decodificam os mais complexos sentimentos humanos, apresentam novas maneiras de pensar, servem de espelho, lanterna ou remédio.
Um objeto tão poderoso é naturalmente cercado de mistérios. Ele tem seu próprio tempo e cabe a nós saber respeitá-lo. É necessário que aconteça um alinhamento entre o nosso momento de vida e o que um determinado livro tem a oferecer. Aí é que está a alquimia da facilitação da leitura. É trabalho de cupido. Muito é na base da intuição, do faro, de não saber bem o motivo exato, mas ouvir aquela voz bem baixinha que sugere sutilmente que tal pessoa vai gostar de tal livro. Não acho que passa pelo racional. Assim como nos apaixonamos por alguém pelos motivos mais insondáveis, com livros não é diferente. O fundamental é ter sensibilidade para saber que o livro tem o momento certo para chegar. Cada livro demanda um grau de maturidade emocional e intelectual. O importante, acredito eu, é respeitar o gosto e a necessidade de cada leitor.