Por Marcelo Xavier - 05 jun 2019 - 4 min
Estava eu saboreando a diversidade da minha rotina de criação e arte quando, de repente, um livro passa voando baixo e me leva com ele. O livro tinha as páginas para as ilustrações em branco. Por sorte eu trazia na mochila massinhas coloridas que levava para as minhas filhas e pude encher os vazios do livro com personagens, objetos e cenários tridimensionais.
Vieram muitos outros livros que me levaram a voar também. Esses, agora, tinham todas as páginas em branco. Tive que levar um lápis, para escrever as histórias e, logicamente, massinhas, para modelar e ilustrar.
Com os livros, pousei por todo canto: à beira-mar, à beira-rio, nos sertões, no meio da floresta, no cerrado, nos pampas gaúchos, no planalto central, nas montanhas, em minúsculas e grandes cidades e no campo.
Em cada pouso era cercado por crianças, professores, pais com olhos, ouvidos e corações abertos para me receber. Daí, chegavam para ver de perto o livro de asas abertas pousado na minha mão. Eu, ali, me transformava no contador daquela história. Depois, em uma espécie de mágico que os ensinaria a voar.
Abria a caixa de massinhas coloridas, distribuía a cada um a sua porção e começávamos a caminhar, passo a passo, pela estrada da criação. Eu, à frente, abrindo o caminho, mostrando coisas interessantes que iam surgindo, desviando de obstáculos. De repente, sem perceber, estavam voando. Cada um deles, com suas asas de massinha, indo em direção ao espaço aberto da arte, à liberdade da criação artística – possibilidade e direito de todos.
Percebo, nesse intenso ir e vir, que uma riqueza foi se acumulando. Riqueza imaterial, invisível, intangível. Riqueza cujo valor só existe quando é compartilhada, que se multiplica se for semeada.
O primeiro campo do conhecimento com o qual a criança se depara é o mundo. Vasto mundo.
O sentimento artístico que nasce com ela transforma sua entrada no mundo em uma experiência mais leve, delicada e fluida. Espontaneamente, ela fantasia com os sons que ouve, as imagens que vê, as pessoas e os objetos que a cercam. E, nesse ambiente tenro e vulnerável, ela brinca. Brinca e se salva. Brinca e sobrevive.
Seu corpo está alimentado com o leite da mãe, com a luz do sol e seu espírito, nutrido com a experiência artística recém-nascida que ela, a criança, produz a partir de pequeno repertório de abstrações.
As primeiras manifestações da arte que o mundo lhe oferece são as canções de ninar, as contações de história e os livros de imagens.
Nesses três elementos pode estar o embrião da arte-educação. Quando se apropria das canções infantis, das histórias, dos livros de imagens, a educação está iniciando a criança na prática da fruição da arte. E, por sua vez, a arte estará introduzindo essa criança nas ocorrências e lições do vasto mundo.
Além do emprego prático da arte na transmissão de conhecimento pela educação formal, a arte-educação atua na formação integral do indivíduo, ampliando sua percepção de mundo, seu senso crítico, a aceitação da diversidade, a abrangência cultural e o necessário exercício da liberdade.
Os livros, com ilustrações tridimensionais, usando massinha para modelar personagens, objetos de cena e cenários, possibilitam vários desdobramentos ligados à arte-educação.
A partir da observação dessas ilustrações, pode-se sugerir:
Essas atividades podem ser feitas individualmente, em pequenos grupos ou com toda a turma em uma grande montagem coletiva.
Fica o convite para futuros voos!
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