Por Amanda Viegas - 19 dez 2019 - 10 min
A literatura possui grande importância no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. À diferença do que comumente se pensa, ela não diz respeito apenas à leitura de livros em disciplinas específicas, como Língua Portuguesa, mas pode – e deve – ser contemplada nas mais diversas áreas do conhecimento.
Embora não esteja delimitada como um componente curricular específico, a literatura atravessa toda a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), marcando presença em vários segmentos do ensino e sendo explorada com base nos diferentes aspectos do texto ficcional.
O presente artigo busca assim evidenciar a relevância dos estudos literários no contexto de sala de aula, destacando como as diversas facetas dessa manifestação artística são contempladas pela BNCC. Confira!
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que define os aprendizados fundamentais durante toda a trajetória do aluno, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Trata-se, portanto, de uma ferramenta que orienta e guia a elaboração e a atualização dos currículos escolares, funcionando como uma referência dos objetivos de aprendizagem em cada etapa da formação dos estudantes. Vale ressaltar que as particularidades sociais, regionais e metodológicas de cada instituição de ensino são consideradas nesse documento, singularizando cada currículo.
A finalidade da BNCC é estabelecer uma educação igualitária, que abranja todo o território nacional e leve em consideração a qualidade do ensino e a formação do cidadão brasileiro. Quanto à estruturação da Base para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, há uma divisão dos conhecimentos em cinco campos de experiências. Além disso, a Base possui caráter normativo e estabelece objetivos de aprendizagem definidos por meio de competências e habilidades essenciais.
A literatura é contemplada sobretudo na terceira das dez Competências Gerais da Educação Básica:
Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
Essa competência está relacionada com o papel da escola como local propicio às manifestações artísticas. Desse modo, dentro da instituição de ensino, os estudantes podem ter contato com obras literárias de diversas regiões do país e ainda de outras culturas, países e épocas, o que muito contribui para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem.
A Base fala também das práticas literárias no contexto extraescolar, considerando seu papel na vida cotidiana das pessoas. Entre elas estão as práticas digitais, previstas em várias habilidades da BNCC, o que se relaciona com a preocupação de promover o aprendizado em sintonia com as possibilidades tecnológicas da vida contemporânea.
As práticas digitais de leitura de textos literários aproximam os estudantes dos recursos tecnológicos da realidade virtual e os capacitam a compartilhar críticas e impressões com os demais leitores. No que se refere ao potencial digital posto a serviço do ensino literário, a BNCC apresenta diferentes sugestões de exploração das obras ficcionais:
Depois de ler um livro de literatura ou assistir a um filme, pode-se postar comentários em redes sociais específicas, seguir diretores, autores, escritores, acompanhar de perto seu trabalho; podemos produzir playlists, vlogs, vídeos-minuto, escrever fanfics, produzir e-zines, nos tornar um booktuber, dentre outras muitas possibilidades. (BNCC, Linguagens, Língua Portuguesa, Ensino Fundamental, p 68).
Vale ressaltar ainda que a BNCC estende a prática e o desenvolvimento da leitura na escola a produções derivadas de obras literárias, como filmes, animações, HQs e paródias. Tais produções, longe de substituir o contato com a complexidade formal e de linguagem dos textos-fonte que lhes deram origem, podem servir, principalmente no campo de adaptações dos clássicos, para familiarizar aos poucos o jovem leitor com esse universo de referências.
Na BNCC, a literatura envolve a formação dos leitores-fruidores, categoria definida nos seguintes termos:
Para que a função utilitária da literatura – e da arte em geral – possa dar lugar à sua dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora, é preciso supor – e, portanto, garantir a formação de – um leitor-fruidor, ou seja, de um sujeito que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de “desvendar” suas múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas e de firmar pactos de leitura. (BNCC, Linguagens, Língua Portuguesa, Ensino Fundamental, p 138).
Ou seja, leitor-fruidor é aquele capaz de perceber a polissemia dos textos, de dialogar com as obras, formulando perguntas, captando respostas que o modificam ao longo da leitura. A “implicação” do leitor está no cerne da experiência estética subjacente aos ideais formativos que norteiam a BNCC. Veja a seguir de que maneira a formação dos leitores literários é abordada em cada segmento escolar:
Na educação Infantil, a Base estabelece cinco campos de experiência, considerando os direitos de aprendizagem e desenvolvimento de cada ano. São eles:
Dentre os cinco, a prática literária se mostra mais presente no campo Escuta, fala, pensamento e imaginação. Para as crianças de até 6 anos de idade, essa prática supõe o contato dos alunos com diferentes gêneros textuais (contos, fábulas, poemas, cordéis e histórias), propiciando o desenvolvimento das capacidades de leitura. Além disso, tal contato estimula a imaginação das crianças e amplia seu conhecimento acerca do mundo.
No Ensino Fundamental aprofunda-se a formação do leitor-fruidor, sobretudo dentro do componente curricular “Língua Portuguesa”.
Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem como participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico-cultural, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas. (BNCC, Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental, p. 65).
Nessa etapa, espera-se que o aluno desenvolva interesse pelas obras e aceite textos desconhecidos, clássicos e desafiadores. Ademais, busca-se a progressão da leitura, de modo a continuar ampliando o repertório do estudante.
No Ensino Médio, a BNCC propõe que a literatura se aproxime mais do componente curricular “Arte”, dentro da área de Linguagens. Em relação ao desenvolvimento do leitor-fruidor nessa etapa escolar, almeja-se a formação de alunos protagonistas.
Nessa etapa, a formação de leitores é realizada de forma mais complexa, para o que é necessário municiar os alunos de informações sobre o contexto histórico, social e ideológico de obras de diversos tempos e localidades. A segunda competência específica de Linguagens e suas Tecnologias para o Ensino Médio se refere a esse desenvolvimento:
Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza. (BNCC, Linguagens e suas Tecnologias para o Ensino Médio, p. 490).
Há ainda outra competência que marca a importância da arte no exercício da cidadania, fazendo com que o aluno seja apto a “apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protagonismo de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.” (BNCC, Linguagens e suas Tecnologias para o Ensino Médio, p. 490).
A literatura é a arte da palavra, mas também instrumento de interação social e de comunicação, meio de transmissão da cultura, dos conhecimentos e ensinamentos de determinada comunidade. Por meio das obras literárias, o escritor expõe seu ponto de vista diante da realidade, levando o leitor a refletir sobre si e sobre o outro. Com isso, a literatura e a arte de modo geral contribuem ainda para questionar o senso comum, estimulando atitudes críticas fundamentais para o processo de transformação social.
O pensamento crítico confere aos leitores a capacidade de relacionar diversas áreas do conhecimento para compreensão de seus problemas e desafios, bem como para a busca de soluções. Além de ser prazerosa, a leitura propicia o enriquecimento intelectual e cultural do leitor e o desenvolvimento de suas habilidades socioemocionais. O contato com textos ficcionais e a identificação com personagens em situações de impasse e superação, estimulando nas crianças e jovens a empatia, que por seu turno os auxilia a lidar melhor com os desafios e a respeitar a diversidade.
Como escreveu o crítico literário Jacinto do Prado Coelho, “não há disciplina mais formativa que a do ensino da literatura. Saber idiomático, experiência prática e vital, sensibilidade, gosto, capacidade de ver, fantasia, espírito crítico – a tudo isso faz apelo à obra literária, tudo isto o seu estudo mobiliza”.
Ademais, os livros literários podem ainda ser utilizados como uma base para projetos pedagógicos interdisciplinares, quando se explora o contexto histórico e geográfico das obras, relacionando-os a conceitos e referências das outras disciplinas.
O desenvolvimento da prática da leitura tem muito a contribuir tanto para a formação escolar quanto para o desenvolvimento pessoal de todos os alunos. Para possibilitar isso, a Base Nacional Comum Curricular prevê a formação do leitor-fruidor ao longo de todas as etapas escolares. A Literatura na BNCC é apresentada como uma maneira de promover uma imersão do discente em obras diversas, com a finalidade de formar alunos com um pensamento crítico, aberto às diferenças e com pelo desenvolvimento das habilidades esperadas para o século XXI.
No Coletivo Leitor, a sessão “Nossos Livros” inclui obras dos selos Ática, Atual, Caramelo, Formato, Saraiva e Scipione. Para facilitar a busca pelos títulos, é possível filtrar os resultados, inclusive, de acordo com as competências da Base Nacional Comum Curricular. Confira nossas obras!