Como escrever histórias infantis para crianças

Por Coletivo Leitor - 04 set 2019 - 5 min

Você gosta de falar sobre o mundo de fantasias e de brincadeiras das crianças e, por isso, tem o desejo de escrever histórias infantis? Então, a primeira coisa que precisa saber é que as crianças constituem um público leitor exigente e bastante crítico. 

Além disso, se você quer escrever um livro capaz de chamar a atenção dos pequenos, é preciso levar em conta uma série de questões. Embora não haja receitas nem fórmulas infalíveis (o escritor é um inventor de formas, não de fórmulas, e o que dá certo em determinadas circunstâncias e com determinados materiais, pode não dar certo em outras), alguns parâmetros podem ser de grande valia. A seguir,  confira algumas dicas de como escrever histórias para esse público. 

Considere a idade da criança

A cabeça das crianças de 5 anos é diferente da das de 6, 7 ou 8 anos, e assim por diante. Dessa forma, o nível de compreensão (bem como o repertório, o vocabulário, o tipo de interesse) varia em cada caso. Ou seja, é comum que aos 5 anos os interesses se voltem para brincadeiras mais físicas, enquanto aos 7 anos começa a ser desenvolvida a curiosidade por jogos de palavras. Identificar essas diferenças etárias é fundamental para cativar seus leitores-alvo.

Meninos e meninas

Outro aspecto a considerar, sobretudo quando se deseja escrever em sintonia com o espírito do tempo, é abandonar preconceitos e não reforçar estereótipos. Na literatura infantojuvenil de outrora, havia uma fronteira nítida entre o que poderia agradar os meninos (histórias de aventura e ação, por exemplo) e o que era mais adequado às meninas (como contos de fada com princesas). Hoje, quando se discutem novos modelos identitários e se coloca em xeque o “binarismo de gênero”, é preciso ser mais livre e perceber que princesas e guerreiros, flores e espadas, lutas e bailes podem interessar tanto meninos quanto meninas. 

Seja um leitor 

Dificilmente você vai conseguir escrever um livro  para crianças se você não estiver acostumado com a linguagem, com os diferentes formatos de livro para esse público (álbuns ilustrados, narrativas de imagem, livros em verso, histórias em quadrinhos etc.) e com os diferentes recursos associados a cada formato. Por isso, é necessário ler obras desse segmento para se familiarizar com esses recursos (textuais, visuais gráficos) a fim de explorar o seu potencial comunicativo da melhor maneira. 

Tenha contato com as crianças

É preciso ter contato com as crianças de hoje para descobrir quais são os seus interesses, curiosidades, sobre quais assuntos elas falam e com o que estão preocupadas. Só por meio desse contato será possível identificar seus anseios, oferecendo-lhes histórias e imagens que digam respeito às suas maneiras de perceber e sentir. 

Faça livros diferentes dos que já existem

Identificar temas contemporâneos, ligados às mediações tecnológicas, aos novos modelos de família e de sociabilidade, à luta contra os modelos de desenvolvimento econômico que esgotam o planeta e a vida é condição sine qua non para oferecer livros antenados com o momento presente. Tudo isso sem prejuízo das histórias tradicionais e da atração por questões de outros tempos e espaços, que, trabalhadas de modo sensível, não esgotam sua novidade nem sua capacidade de encanto.

Lembre-se das coisas que você já viveu

Criar enredos e manejar o suspense de modo a  instigar os pequenos é sempre um grande desafio. Uma alternativa é buscar nas lembranças da sua própria infância elementos com potencial fabular. A distorção (exagero, mistura, poetização) de elementos de natureza biográfica ou factual é um caminho fecundo que pode conduzir a resultados literários surpreendentes.

E, por falar nos desafios da criação literária, conheça a seguir alguns títulos do nosso catálogo com personagens escritores.

Botina, o escritor da classe, de Jair Vitória

Botina, o escritor da classe

O destino de Juvenal já parece traçado: seu pai é lavrador e quer tirá-lo da escola, precisa de sua ajuda na roça. Juvenal, porém, tem outros planos: seu campo será a escola; sua enxada, a caneta. Mas como se tornar escritor em condições tão adversas?

 A árvore do medo, de Marco Túlio Costa

 A árvore do medo

Um escritor é convidado por uma ONG para fazer uma oficina de produção textual com crianças em situação de risco para protegê-las durante o dia. Ao longo da oficina, ele percebe que o texto de um aluno expressa um problema real vivido por ele. A criação vira então testemunho e meio de resistência. 

Machado e Juca, de Luiz Antônio Aguiar

Machado e Juca

O garoto Juca e o escritor Machado de Assis tentam desvendar o desaparecimento de uma mulher. Transformando Machado em personagem, Luiz Antonio Aguiar cria uma metaficção e põe na berlinda o bruxo do Cosme Velho.